Antes de começar a falar sobre o
assunto, quero deixar claro algumas coisas: sou um ambientalista nato, defendo
até o ultimo suspiro a natureza, porém não considero que a culpa da devastação
natural que hoje temos, seja exclusiva dos caçadores e pescadores, porque essas
atividades existem a séculos e em muitos lugares é regularizada e sustentável,
o grande problema está no desmatamento descontrolado que ocorre em todo Brasil,
isso limita muito a reprodução das espécies nativas e assim leva muitas
espécies a extinção.
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Colonos entre 1940 a 1970 |
Fui criado no interior em uma família de caçadores e
pescadores (dai veio meu gosto por Biologia), no entanto, a caça nunca me
chamou muita atenção, não gosto de pensar em se divertir vendo a morte de
animais tão belos, mesmo no sitio quando tinha que abater porcos ou qualquer
outro animal domestico eu me sentia muito mal, tenho um enorme respeito pela
tradição da caça, porém, na situação calamitosa que se encontra nossa fauna, tenho que usar o bom senso e nesse caso sou contra a caça, mas sonho com
o dia em que ela se torne viável e sustentável, sendo inclusive um meio de
preservação das espécies ameaçadas de extinção.
Grande parte da cultura e
alimentação dos Indígenas vem da caça e pesca, no entanto com a diminuição das
áreas indígenas, o desmatamento descontrolado, a poluição de rios, o
aquecimento global, etc. essa atividade esta entrando em extinção e queira ou
não, muitas das nossas culturas indígenas estão se extinguindo. Nunca vou defender a caça
Esportiva, pois acho um absurdo isto, no entanto a caça de subsistência essa é
necessária a muitas culturas, meus antepassados não teriam sobrevivido se não
fosse a caça e a pesca, por isso defendo uma preservação da flora e Fauna que
num futuro (infelizmente) muito distante propiciara essa atividades. Porem
nesse texto quero apenas mostrar o que vi aqui em Portugal e a minha opinião do
que poderia ser feito no Brasil.
Viajando por Portugal notei varia
Zonas de Caça, algumas Zonas Municipais, nacionais, turísticas, de treino de
caça ou de cooperativas de caçadores, fiquei interessado sobre o assunto,
porque notei nessas regiões uma grande quantidade de buchas e cartuchos vazios.
Nos países europeus a caça vem
sendo praticada e regulada há centenas de anos. Apesar disso, várias espécies
nativas já foram extintas ou chegaram à beira da extinção. Nos Estados Unidos a
caça (amadora e esportiva) movimentava no fim do século XX uma economia de US$ 13
bilhões, dos quais expressiva parcela arrecadada e destinada, segundo a Lei
Pitman-Robertson, para sustentar e ampliar os sistemas de Refúgios Naturais de
Vida Selvagem que protegem milhões de hectares de áreas naturais. O estado
americano da Pensilvânia, que é pouco maior do que o estado de Pernambuco
adicionará R$ 1,43 bilhões de atividades econômicas apenas acrescentando o dia
de domingo à sua temporada de caça, que traz ao estado 7500 empregos e geração
de R$100 milhões em impostos estaduais e municipais.
Nos EUA, Canadá e México existe
uma taxa (Ducks Unlimited - DU), que é cobrada dos caçadores amadoristas e que
é revertida para a preservação de ambientes naturais. Só no Canadá, entre os
anos de 1938 e 1996, o DU protegeu 6.072.791 ha e ampliou áreas já protegidas
em 1.228.132 ha. Neste mesmo período de 58 anos, o DU do Canadá investiu US$
700 milhões na preservação de 7,3 milhões de hectares.
Noutros países de rígida gestão
ambiental, como é o caso da Austrália, também é permitida a caça controlada em
seus territórios.
Em Portugal existe uma federação
de caçadores a Fencaça (Federação Portuguesa de Caça), foi a 1ª Federação de
Caçadores, de âmbito nacional, a surgir, com o objetivo de apoiar e fomentar o
inicio do ordenamento cinegético do território português. Tornou-se a federação
mais representativa dos caçadores portugueses, congregando cerca de 1.000
associados titulares de concessões de zonas de caça, representando cerca de
100.000 caçadores.
Com a publicação da Lei n.º 30/86
de 27 de Agosto, o Estado Português iniciou um processo de ordenamento da
atividade cinegética, com a criação de zonas de caça e a atribuição da sua
gestão, ou concessão a associações de caçadores ou empresas. Essas zonas de
caça devem possuir uma área mínima de 400 ha, exceto em casos devidamente
fundamentados, ficando estas limitadas a explorar uma única espécie ou grupo de
espécies.
Para a legalização dessas zonas
de Caça os proprietários tem que fazer um requerimento ao órgão ambiental
local, acompanhado de Plano de Ordenamento e Exploração Cinegética elaborada
por técnico credenciado e cartografia digital dos terrenos englobados.
Os donos desses terrenos têm como obrigação:
sinalizar a área de caça; seguir as normas nacionais de caça; seguir um plano
de exploração da contingente de caça; comunicar ao órgão ambiental responsável
os resultados anuais da exploração; no caso de zonas de caça turísticas é
necessário comunicar a nacionalidade e a qualidade dos caçadores; pagar uma
taxa anual ao governo; quando o prazo de concessão da área, que vai de 6 a 12
anos, esta terminado nos 2 últimos anos não pode ser caçado um numero de
exemplares de espécies cinegéticas sedentárias superior à média dos dois anos
precedentes, salvo nos casos autorizados pelo órgão ambiental responsável; os
concessionários devem proceder à atualização dos planos de ordenamento
cinegético sempre que ocorram alterações significativas no meio com reflexos
sobre as espécies exploradas. Os caçadores que pratiquem atividades de carácter
venatório em campos de treino devem possuir carta de caçador, seguro e licenças
de uso e porte de arma. Caso se façam acompanhar pelos cães, devem possuir toda
a documentação exigível. As licenças de caça anuais não são obrigatórias.
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Sinalização das Zonas de Caça |
Tudo funciona da seguinte forma,
você tem áreas exclusivas para caça, para o treino de caça, para o refugio de
animais e de proteção permanente. Existem períodos em que não é permitido
caçar, como épocas de reprodução, épocas de estiagem prolongada, entorno de
lagos ou rios que sirvam de refugio, locais de inundações ou incêndios onde os
animais fiquem fragilizados e dias “santos”, como Sexta – feira Santa, pascoa,
Natal, etc. Os caçadores devem seguir todas essas regras senão podem sofrer
penas que vão de multas a prisões.
Muitas áreas de caça possuem um sistema de alimentação das espécies e como aqui ocorre uma grande estiagem no verão, algumas áreas também possuem sistema de abastecimento de água para os animais. Uma coisa interessante sobre essas áreas de caça é que elas se tornaram algo rentável, gerando uma renda extra, porque muitas Zonas de Caça são áreas de reflorestamento, de plantações de oliveiras ou ainda áreas onde não é possível a pratica da agricultura, no entanto com a crise Europeia, ocorreu uma diminuição na quantidade de caçadores licenciados e assim uma diminuição na arrecadação dessas áreas. Grande parte da arrecadação dessas áreas vai para a própria manutenção das mesmas.
Em Portugal esse sistema em
partes é sustentável, como ocorre em qualquer parte do mundo, sempre tem alguns
casos de não cumprimento da lei, no entanto o principal problema é a diminuição
da diversidade das espécies, visto que somente algumas espécies possuem
interesse na exploração cinegética, sendo outra espécies desprezadas e
ignoradas, porém é uma boa forma de manter parte da fauna, já a flora local
fica muito limitada, justamente pelo cultivo e invasão de espécies exóticas
(isso inclusive ocorre com grande parte da fauna local).
No Brasil, o único Estado que
permitia caça esportiva era o Rio Grande do Sul, sendo que a temporada variava
de ano a ano (em geral de maio a agosto). Por vezes, liminares solicitadas à
Justiça por grupos ambientalistas suspenderam a temporada até que, em 2005, a
caça no RS foi proibida permanentemente até que sejam feitos estudos mais
completos que a justifiquem. Atualmente a caça ao javali-europeu, que é uma
espécie exótica invasora, está liberada pelo Ibama em todo o Brasil como meio
de controle de sua população, por meio da Instrução Normativa nº 3, de 31 de
janeiro de 2013.
No Brasil um sistema parecido com
o Europeu seria em partes inviável, porque nossa fauna se encontra muito
frágil, principalmente nas regiões agrícolas, isso sem contar que a forma de
exploração agrícola e florestal do Brasil limita muito a alimentação de nossos
amimais nativos, teríamos que montar uma estrutura e legislação que
viabilizaria a caça, esse processo demoraria no mínimo uns 100 anos para todo o
território Brasileiro (com exceções de alguns locais).
Quanto aos caçadores ilegais do
Brasil, acho a justiça deve ser rígida e puni-los severamente, infelizmente na
situação que se encontra nossa fauna isso é essencialmente necessário, no
entanto, mais severa devem ser as punições os devastadores das florestas, porque
os caçadores e pescadores em grande parte são pessoas humildes, que vivem em um
sistema antigo e tradicional das colônias, esses nasceram e se criaram no meio
dessa pratica, agora já os destruidores de florestas esses em partes são
grandes proprietários, muitos políticos, juízes, policiais, etc. e por isso
seus crimes muitas vezes são ignorados.
Um dos temas que pretendo debater
em meu TCD é conscientização dos camponeses quanto a preservação do meio
ambiente, mostrando a eles que por enquanto a caça é algo totalmente inviável e
que infelizmente para eles não é vantajosa essa pratica, que o melhor meio é a
preservação das espécies nativas assim como também a preservação das reservas
florestais, inclusive que as reservas obrigatórias podem ser rentáveis, como é
o caso da coleta de Pinhão, de frutas silvestres, de remédios naturais, de
peixes, de mel, etc., mas, nunca da caça e do desmatamento. Preservação é uma
questão de subsistência!!!
Por Renato Kovalski Ribeiro.